O ano de 2025 começa com um tom de alerta para o Brasil. A economia, longe de apresentar sinais de reação, paira sob nuvens carregadas que já provocam reações no tabuleiro político. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta ajustar sua estratégia para os dois anos restantes de mandato, o céu político não parece tão azul quanto ele gostaria.
Os indicadores econômicos são, no mínimo, preocupantes: dólar acima de R$ 6, inflação fora do centro da meta, dívida pública em crescimento. Esse cenário reflete uma economia estagnada, que parece incapaz de oferecer as respostas necessárias às demandas de um país ainda marcado por desigualdades profundas e um mercado financeiro desconfiado. Lula insiste que 2025 será o "ano da colheita", mas, ao que tudo indica, o terreno segue árido.
No universo político, a falta de uma estratégia clara de alianças para 2026 é evidente. O governo tenta usar a reforma ministerial e a eleição das mesas do Congresso para atrair o centrão. Mas o fato é que, em Brasília, poucos estão dispostos a apostar todas as fichas na reeleição de Lula. Políticos de centro e direita, atentos ao humor das ruas e ao desempenho da economia, aguardam os próximos passos antes de se comprometerem com o atual governo.
É uma situação paradoxal: enquanto Lula busca consolidar sua base, o pragmatismo do Congresso segue ditando o ritmo. O foco é claro: o desempenho econômico será o termômetro para decidir se vale a pena abraçar o projeto de reeleição ou se é hora de fortalecer a oposição.
Um dos pontos de maior tensão entre o governo e o mercado financeiro foi a atuação do Banco Central sob Roberto Campos Neto, herança do governo Bolsonaro. A posse de Gabriel Galípolo é vista como uma tentativa de apaziguar as relações, mas os desafios são imensos. A autonomia do Banco Central, garantida em discurso por Lula, será testada na prática. O mercado observará de perto como Galípolo vai lidar com a Selic, o controle da inflação e o equilíbrio fiscal.
Outro ponto crucial é a comunicação do governo. Lula, que sempre foi um habilidoso comunicador, enfrenta agora o desafio de reconectar-se com a população. O discurso de que "o Brasil voltou" não resiste ao cotidiano de muitos brasileiros que convivem com juros altos, desemprego e perda do poder de compra.
A promessa de avanços ambientais durante a COP 30, em Belém, é positiva, mas não resolve os problemas domésticos imediatos. A relação com os Estados Unidos, especialmente com Donald Trump de volta à Casa Branca, é um ponto delicado que exige pragmatismo e diplomacia.
O que se desenha para 2025 é um governo que precisa entregar resultados concretos para se manter relevante. Lula sabe que o tempo corre contra ele. A pressão para baixar os juros, conter o dólar e melhorar os indicadores econômicos é crescente. Ao mesmo tempo, a capacidade de articulação política será fundamental para garantir governabilidade.
O "ano da colheita" anunciado por Lula pode ser, na verdade, um ano de sérios desafios. Se o governo não apresentar soluções claras e eficazes, o pessimismo econômico continuará a ser um peso que impacta diretamente a configuração política de 2026. Para Lula, o tempo de plantar acabou. Agora é hora de colher – mas isso só será possível se o terreno for devidamente preparado.