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Morre Sebastião Salgado, ícone da fotografia humanista, aos 81 anos

O fotógrafo brasileiro ganhou reconhecimento mundial por retratar a condição humana e a natureza com profundidade e sensibilidade.

Alexia Dias
Por: Alexia Dias
23/05/2025 às 13h06
Morre Sebastião Salgado, ícone da fotografia humanista, aos 81 anos
Morre Sebastião Salgado, ícone da fotografia humanista, aos 81 anos/Foto:Divulgação

O mundo da fotografia, das artes e do jornalismo perdeu nesta sexta-feira (23) uma de suas figuras mais reverenciadas. Sebastião Salgado, considerado um dos maiores fotógrafos de todos os tempos, morreu aos 81 anos. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização não-governamental fundada por ele e por sua esposa, a arquiteta e ambientalista Lélia Wanick Salgado. A causa da morte não foi divulgada.

Na nota oficial, o Instituto se despediu de seu fundador com palavras que ressaltam o impacto e a profundidade de seu legado: “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade”.

O fotógrafo deixa a esposa, Lélia Wanick Salgado, de 78 anos, dois filhos — o cineasta Juliano Salgado, de 51 anos, e o pintor Rodrigo Salgado, de 45 —, além de dois netos, Flávio e Nara.

Da economia à lente: uma história de transformação

Nascido em 8 de fevereiro de 1944, em Aimorés, interior de Minas Gerais, Sebastião Ribeiro Salgado formou-se em Economia, com pós-graduação pela Universidade de São Paulo (USP). Em 1968, trabalhava no Ministério da Economia quando, por conta do endurecimento do regime militar, buscou asilo político em Paris, onde também concluiu seu doutorado na área.

Foi apenas nos anos 1970, durante uma viagem à África, que a fotografia entrou de vez em sua vida. Com a câmera da esposa nas mãos, começou a registrar paisagens e pessoas como hobby, mas logo encontrou ali uma nova missão: documentar o mundo, suas contradições, sua beleza e sua dor.

Carreira internacional e olhar humanista

Sua carreira como fotógrafo profissional começou em 1973, já em Paris, com registros históricos da Revolução dos Cravos, em Portugal. Em 1981, atuando para o New York Times, registrou os 100 primeiros dias da presidência de Ronald Reagan.

Ao longo da vida, percorreu o planeta com uma sensibilidade ímpar. Entre 1984 e 1985, passou mais de um ano com os Médicos Sem Fronteiras na região africana do Sahel, onde documentou os efeitos da seca e da fome em imagens que impactaram o mundo. Era o início de uma sequência de projetos de cunho social, humanitário e ambiental.

De suas lentes nasceram séries fotográficas transformadoras, entre elas:

  • Trabalhadores (1986–1992): retrato global do trabalho manual em condições extremas;

  • Êxodos (2000): registros de migração, refugiados e deslocamentos humanos;

  • Gênesis (2013): projeto voltado à natureza intocada e culturas ancestrais;

  • Amazônia (2021): ensaio dedicado aos povos originários e à preservação da floresta.

Salgado transformou a fotografia em um instrumento de denúncia e conscientização, com forte apelo social. Suas obras estão em exposições permanentes e acervos de museus de arte e história ao redor do mundo, como o MoMA (Nova York), o Centre Pompidou (Paris), a National Gallery (Londres) e o MASP (São Paulo).

Seu trabalho mais recente, Amazônia, foi realizado ao longo de sete anos, com foco em comunidades indígenas e no bioma amazônico. Foi lançado em livro e em exposição itinerante, que percorreu capitais

Em 1998, ao lado de Lélia, fundou o Instituto Terra, um projeto de recuperação ambiental da Mata Atlântica na região do Vale do Rio Doce. A ONG tornou-se um modelo de restauração ecológica e engajamento comunitário. Em mais de duas décadas de atuação, recuperou milhares de hectares de florestas e promoveu a educação ambiental em comunidades rurais de Minas Gerais e Espírito Santo.

Ao longo da carreira, Salgado foi homenageado com os principais prêmios de fotografia do mundo, como o Prêmio Príncipe de Astúrias, o World Press Photo, o Hasselblad Award e o Lucie Award. Também recebeu o título de Doutor Honoris Causa por diversas universidades, incluindo Oxford, Harvard e USP.

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