A Polícia Civil do Piauí concluiu, nesta quinta-feira (3), as investigações da Operação Faixa Rosa, que resultou no indiciamento de 19 pessoas pelos crimes de apologia ao crime e organização criminosa. A ação foi conduzida pelo Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), com apoio da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Deflagrada em 30 de abril de 2025, a operação tinha como alvo um núcleo criminoso composto majoritariamente por influenciadoras digitais, que usavam suas redes sociais para promover, exaltar e recrutar para organizações criminosas, com foco na glamourização do tráfico, da violência armada e da criminalidade urbana.
“Os trechos demonstram com clareza não apenas a estrutura de comando e disciplina dentro da organização, mas também a tentativa de doutrinação criminosa, com uso explícito de códigos internos e linguagem própria da organização”, destacou o delegado Charles Pessoa, coordenador do DRACO.
Das 19 pessoas indiciadas, 18 permanecem presas preventivamente. Uma delas continua foragida. A Justiça autorizou a divulgação do material probatório da investigação, que inclui áudios, vídeos, mensagens e documentos internos da facção criminosa.
O grupo fazia uso intenso de redes sociais como Instagram, TikTok e WhatsApp para divulgar vídeos ostentando armas, drogas, valores em dinheiro, além de ameaças a rivais e apologia ao enfrentamento armado contra o Estado.
As investigadas atuavam como espécie de “braço de comunicação” da facção, criando uma estética de crime atrativa especialmente para jovens em situação de vulnerabilidade social. “Influenciadoras com grande alcance digital vêm utilizando as plataformas como vitrines do crime, promovendo uma estética violenta, banalizando a criminalidade e incentivando a adesão de jovens ao tráfico de drogas e ao confronto armado”, pontuou o delegado Charles Pessoa.
A investigação reuniu áudios impactantes entre as investigadas. Em um deles, uma mulher identificada como Paula Moura dos Santos, conhecida como “Palhacinha”, sugere que novas integrantes devem aprender “a ética do crime” com o grupo.
Outro trecho, atribuído à influenciadora Eryka Carollyne, mostra o compartilhamento de endereços de supostos rivais, com frases como “é mamão com açúcar pra derrubar todos os três”, sugerindo ações violentas em retaliação.
Já Layla Moura dos Santos Feitosa aparece em mensagens onde questiona e confirma alvos, enquanto outras envolvidas discutem a organização interna da facção, com regras claras sobre “fechamento”, hierarquia e compromissos.
Facção mantinha cadastros de integrantes com dados e histórico
Além dos conteúdos digitais, os policiais apreenderam documentos físicos da organização criminosa, contendo cadastros detalhados dos integrantes, com nome real, apelido, bairro de origem, funções dentro do grupo e data de entrada.
Os formulários revelavam que os membros deveriam se comprometer com o estatuto interno da facção e atualizar seus dados em caso de mudança de endereço ou transferência para o sistema penitenciário, sob pena de sanções internas.
A estrutura formalizada, segundo a Polícia Civil, confirma que as ações não eram isoladas, mas parte de uma rede organizada com comando, disciplina, funções bem definidas e expansão digital estratégica.